quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Editorial sempre atual.

Um pouco de luz sobre a obra da Rua Cinco
Editorial da Tribuna Impressa em 11 de janeiro de 2007

"Os desdobramentos do projeto de remodelação da Rua 5, pomposamente denominada de uns meses para cá de Bulevar dos Oitis, reforçam posição levantada por editorial da Tribuna, publicado em 26 de novembro do ano passado. Na ocasião, lembrávamos da importância de definir prioridades da administração na alocação dos recursos municipais, antes que fosse modificada uma charmosa paisagem que funciona como cartão postal da cidade – o trecho central da Rua Voluntários da Pátria. A forte reação da opinião pública, de moradores do local e das entidades afetadas direta ou indiretamente pelo projeto levaram a Prefeitura a suspender o início das obras, reconhecendo a necessidade de uma discussão mais apurada.Novamente, o método de discussão do tema efetivamente não foi democrático. Convocar entidades e população para debater uma obra de interesse público depois de encerrada a licitação e contratada a empresa responsável é uma forma de ação autoritária, para dizer o mínimo, por demonstrar desprezo às posições e desejos do maior interessado – o cidadão araraquarense. Pior ainda, nem mesmo o CONDEPHAT sequer havia sido ouvido. Ainda assim, o fato de a obra ter sido ao menos temporariamente suspensa, depois da audiência pública de segunda-feira, mostra que os protestos tiveram alguma ressonância junto à Administração. Há, na verdade, duas discussões em jogo. A primeira está ligada à magnitude do projeto e sua efetiva utilidade. Mesmo quem não é favorável considera que há a necessidade de uma revitalização no local, como reformar o piso de paralelepípedos da rua e o arenito das calçadas, além de problemas crônicos de fiação que poderiam ser embutidos. Em sã consciência, nem o mais intransigente morador da Rua 5 seria contra o embelezamento ainda maior do local.A questão mais polêmica está ligada aos excessos do projeto, às transformações radicais nas calçadas e nos seus usos, na estrutura viária e no leito carroçável. É sobre essas questões que a resistência se baseia, seja por manifestações individuais dos moradores, seja por apelos de entidades organizadas ou canais políticos. Em um de seus artigos publicados quinzenalmente, aos domingos, na Tribuna, Ignácio de Loyola Brandão tentou refletir o sentimento popular, que reproduzimos aqui: “Por que não deixam em paz coisas estabelecidas e que funcionam como são? Para estragar, arruinar como tem acontecido ao longo da história? Vão abrir bares e cafés para o povo ficar no final da tarde? Bares ou botecos? Em lugar de investir mais dinheiro para desarrumar o arrumado, por que não restaurar a praça da Matriz, cujo chafariz está desativado e cujo piso está perdendo as pedrinhas portuguesas? Por que não varrer e limpar a cidade que está cheia de mato em bairros pobres ou nobres?” Na manifestação de Loyola está justamente a segunda discussão em torno do tema: o encaminhamento de verbas para o que realmente a cidade precisa. É aí que o projeto peca. E o fato de haver uma verba aprovada pelo Ministério das Cidades não o justifica, se de fato a população julgar que não quer este projeto do Bulevar dos Oitis. Ainda mais porque existe uma contrapartida local de cerca de R$ 181 mil que certamente fará falta no combalido orçamento municipal. O que toda população espera é que a sensibilidade demonstrada nas reações à reunião de segunda-feira paute a administração pública nos próximos passos do episódio."