sexta-feira, 20 de julho de 2007

As obras continuam suspensas por decisão judicial


Cada um em seu posto
Publicado na Tribuna Impressa em 19 de julho de 2007
Marta Fernandes de Sousa Costa*

Parece, às vezes, que a luta é inglória. Reagir é dar murro em paredes de cimento e isso só fere as mãos, todos sabemos. Reagir pode desencadear ações violentas, ocasionar mal-estar e castigos, como ocorria na infância, quando alguns batiam portas, em protesto, e logo eram conduzidos ao cantinho, para pensarem melhor. Reagir é perigoso, fomos levados a concluir, e por isso nos encolhemos, covardes e omissos. São tantos os escândalos e desmandos noticiados pelos jornais, fora aqueles que nem chegam ao nosso conhecimento, abafados pelo corporativismo ou pelo medo de expor as próprias culpas. Senadores confessam terem todos “o rabo preso” e a declaração nos deixa perplexos. A violência explode, ônibus são metralhados, inocentes exterminados por motivos absurdos, bebês e crianças arrastados na onda de ódio que domina o Brasil. Prostitutas, índios, negros e homossexuais podem ter encontro marcado com a tragédia, numa saída à rua. Empregadas domésticas, agora se sabe, também precisam tomar cuidado. Vale muito pouco a vida alheia.Na verdade, vivemos todos cheios de cuidados, sem saber o que há atrás de cada esquina. Há perigo em usar o celular, calçar o tênis Nike, vestir a jaqueta Mormaii. Perigo em sair à rua, estacionar o automóvel, esperar no semáforo, abrir o portão da garagem. A vontade é ficar quieto, ignorar, mudar de país, pra fingir que nada disso é conosco. Só que não dá mais para fugir, nem pra ignorar. A hora é de assumir, enfrentar, encarar. Quando recuamos, avançam os que nos são contrários, cheios de razão, porque quem não defende suas crenças não merece preservá-las.Chega de ficarmos inertes, acompanhando a sucessão de escândalos. E não venham pôr a culpa na miséria, acusar as desigualdades sociais, porque, se as causas fossem apenas essas, não haveria criminosos e trambiqueiros nos altos escalões governamentais, nem nas altas rodas sociais.E se fóssemos contar, uma por uma, as pessoas idôneas, corretas, preocupadas com o próximo, e em outra lista colocássemos os corruptos, maledicentes, violentos, criminosos, teríamos a surpresa de descobrir que é bem maior o número dos primeiros. Só que agem sem alarde, não ocupam manchetes dos jornais, pois a seriedade e os bons propósitos não costumam despertar tanto interesse como a descoberta de falcatruas, a violência explícita, a sem-vergonhice escancarada.Nesse caso, precisamos nos unir e cerrar fileiras na defesa dos nossos princípios. Precisamos aprender a reivindicar, externar o nosso desconforto, exigir que nos ouçam, fazer coro com os que dizem o que não tivemos coragem de falar. Cada um em seu posto - nas casas, escritórios, oficinas e universidades - estejamos todos em estado de alerta, prontos a defender tudo em que acreditamos. E se somos tantos os descontentes, cansados de engolir sapos e iniqüidades, empurrados goela abaixo, como coisa normal, então a reação não é tolice, nem a luta inglória.

Marta Sousa Costa Marta é colaboradora e colunista de diversos jornais e sites em diferentes estados brasileiros.

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