terça-feira, 10 de julho de 2007

"...Na batalha dos argumentos, a Prefeitura sai perdendo..."

Na discussão sobre a Rua Cinco, desprezo ao bom-senso
EDITORIAL - Tribuna Impresa - 27 de maio de 2007

A inesgotável discussão sobre a reforma na Rua Cinco (Voluntários da Pátria) chegou na semana passada a seu ponto mais crítico e, ao mesmo tempo, mais desprovido de bom-senso. Diante do início efetivo das obras, determinado pela Prefeitura, grupos de moradores e entidades civis que não concordam com parte do projeto programaram vigílias diárias nos locais onde já havia atividades e se propuseram a impedir a seqüência dos trabalhos. Do outro lado, a Administração municipal não abriu mão de suas intenções e foi buscar apoio da Guarda Municipal para garantir a ação dos operários, como se dissesse ‘vamos ver quem manda nesta cidade’. Resultado: um dos locais mais marcantes e agradáveis de Araraquara foi palco de um desnecessário embate.
O debate acirrado sobre o projeto do ‘Bulevar dos Oitis’ vem desde meados do ano passado e teve ao menos dois momentos de clímax. O primeiro, em novembro, quando se discutiu a efetiva necessidade de uma obra definida como ‘de revitalização’, com investimento de mais de R$ 800 mil, sendo R$ 180 mil de recursos dos cofres da Prefeitura, em um local tradicionalmente muito freqüentado e tido já como cartão postal da cidade. Era preciso analisar o projeto e o investimento diante de outras necessidades vitais da cidade, especialmente nas áreas de saúde e infra-estrutura. Ou seja, o projeto não era prioritário.
O segundo momento, no início deste ano, marcou a reação efetiva da opinião pública e de setores organizados contra a forma utilizada pela Prefeitura ao aprovar a polêmica revitalização: uma passagem rápida do projeto pela Câmara, seguida da licitação a toque de caixa para a contratação da empresa responsável e a divulgação do cronograma da obra. Pressionada pela reação popular, a Administração reconheceu que era preciso ouvir os representantes dos principais afetados pelo projeto do Bulevar dos Oitis: os moradores da região da Rua Cinco. Assistidos por especialistas em patrimônio público, por arquitetos, alguns políticos e, principalmente, por suas próprias convicções, muitos moradores não aprovaram a obra e algumas modificações radicais que estavam previstas, como a redução do leito carroçável e a montagem de bancos de alvenaria e floreiras nas calçadas.Depois de algumas tensas reuniões, impasses e manifestações de todos os setores – inclusive por meio de inúmeros artigos nas páginas desta Tribuna -, aparentemente havia se chegado a um consenso do que deveria ou não ser feito. Há quase dois meses, o assunto esmoreceu, até que o Conselho Pró Patrimônio Histórico (Compphara) denunciasse, há dez dias, que o projeto seria colocado em prática apesar de sua reprovação. O movimento de resistência recomeçou, com força ainda maior, desembocando nas cenas dos últimos dias.Na batalha dos argumentos, a Prefeitura sai perdendo. Ao definir o movimento de resistência como uma ação política, a Administração municipal menospreza a vontade dos moradores e dos cidadãos e reduz tudo a uma simples disputa pelo poder. O argumento político, aliás, sempre é usado nas horas complicadas. Ora, políticos em temas de fácil apelo popular haverá sempre, sejam eles defensores dos direitos do cidadão ou inveterados oportunistas. Além disso, o cidadão tem capacidade - e direito - de se organizar, sem precisar que alguém lhe diga o que é preciso fazer. O que interessa, então? E o fato em si? E a discussão sobre a redução do leito carroçável da Rua Cinco? Não há solução para esse pequeno detalhe? E a capacidade de entendimento que se pressupõe existir em uma sociedade civilizada? Ou tudo vai se resumir a um lamentável ‘vamos ver quem manda aqui’?Neste momento, a busca pelo bom-senso e por medidas objetivas e aceitáveis para ambos lados deveria pautar as discussões – até para que não se repitam as cenas dos últimos dias, com exageros de parte a parte. Algo que poderia ser bom para todos não tem por que se tornar um autêntico pesadelo. Coisa que, definitivamente, a população desta cidade não merece

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