terça-feira, 3 de julho de 2007

Prezado prefeito Edinho

Foto: Prof. Alcyr Azzoni

Prezado prefeito Edinho
Publicado em 09 de junho de 2007 - Tribuna Impressa
*Profa.Dra. Helena Carvalho de Lorenzo
Vice-coordenadora de Mestrado - UNIARA

"Sinto-me muito à vontade ao escrever-lhe esta carta pública para expressar minha opinião sobre o projeto que a prefeitura está implantando para “modernizar” a Rua 5. Sinto-me à vontade porque me considero sua amiga e porque, por vezes, tenho trabalhado em parceria com a prefeitura em projetos de desenvolvimento regional, nos quais temos tido bons resultados.

Fui sua eleitora, embora não seja petista, porque considerei que algumas de suas propostas de governo poderiam atender a novas e emergentes demandas urbanas, necessárias para ajustar nossa cidade às profundas transformações socioeconômicas pelas quais vem passando a região como um todo.
Refiro-me mais especificamente a grande expansão recente das principais atividades econômicas: as atividades agro-industriais e as demais indústrias regionais, principalmente, as mecânicas, as de base tecnológica e a aeronáutica, dentre outras, que passaram por processos de adaptação a novos padrões produtivos de competitividade e produtividade, com fortes impactos econômicos e sociais no mundo urbano, sobretudo na geração da renda e emprego. Por outro lado, também a intensificação mais recente dos setores de comércio e serviços aponta para novas vocações regionais, com efeitos positivos e negativos para a cidade e região.
Um desses efeitos que mais chama a atenção está no plano demográfico e da distribuição da renda. Informações estatísticas recentes sobre a renda das famílias mostram que desde o inicio do século XXI no Município de Araraquara, assim como em várias cidades da região, o número de famílias com 10 ou mais salários mínimos vem caindo, enquanto o número de famílias com 1 e 2 salários mínimos vem aumentando significativamente. É certo que existem várias interpretações para esses dados, porém, nesse caso, pretendo apenas ilustrar que a tendência a mudanças no perfil da renda indica possível empobrecimento da população, o que sempre resulta em fortes impactos no mundo urbano.
Araraquara vem se transformando aceleradamente e estas transformações vêm sendo razoavelmente acompanhadas por sua gestão. Há políticas voltadas para os dois extremos mencionados: o apoio aos grandes e novos empreendimentos econômicos e políticas públicas para atender a população mais carente em bairros de elevado risco social.

O que esta análise tem a ver com o episódio da Rua 5? Ressaltar que demandas emergentes não são as únicas que merecem atenção especial. Há uma faixa grande de demandas locais pouco atendidas e não contempladas com políticas específicas. É claro que não se pode atender todas as demandas municipais, mas como entender a falta total de sensibilidade do poder público no caso do projeto de “modernização” da Rua 5?
Será que atender demandas emergentes implica no descaso ao atendimento de solicitação de parcela significativa da população, que gostaria de ver preservada e cuidada uma parte da cidade estreitamente relacionada com o seu passado? É visível que a Rua 5 precisa de reformas, mas intervir para mudar a natureza deste passado é perder uma raiz importante para a compreensão de seu futuro. Isto é muito sério. As cidades têm caráter; “modernizar” não pode significar eliminar as raízes históricas. A responsabilidade do poder público frente às características históricas de uma cidade é muito grande.
Prezado prefeito, tenho certeza que não estou lhe contando algo que você não saiba. Então, por quê? Esta atitude autoritária me faz lembrar a demolição do nosso antigo teatro municipal em nome da “modernização”. Mas aquela foi uma atitude assumida por uma gestão bastante conservadora. E agora, o que devemos pensar? A preservação do patrimônio histórico e cultural de nossa cidade continua não sendo prioridade?
Espero que depois desta manifestação eu ainda possa continuar me considerando sua amiga e parceira em projetos de desenvolvimento regional, mas não posso me calar diante de uma concepção tão grosseira de cultura que, por não respeitar o patrimônio histórico da cidade, expressa valores que não deviam estar presentes em seu governo."


*Helena Carvalho De Lorenzo
Vice-coordenadora do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente - UNIARA
mestrado@uniara.com.br

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