domingo, 1 de julho de 2007

Bulevar, boulevard, avenue ou damm?

Bulevar, boulevard, avenue ou damm?
Publicado em 24/12/2006 - Tribuna Impressa
Ignácio de Loyola Brandão

"De tempos em tempos surgem projetos para a Rua Cinco. O mais recente é o Bulevar dos Oitis. Na minha opinião, a Rua Cinco devia ficar como está, porque cada vez que se mexe em uma coisa na cidade é para estragar. Perceberam que escrevo Rua Cinco em maiúsculas? Porque é assim que a conhecemos há cem anos. Nunca ouvi alguém dizer Rua Voluntários da Pátria. A Rua Cinco é um ícone, referencial. O professor Berthold Zilly, do Instituto Ibero Americano de Berlim, tradutor de Os Sertões para o alemão, ficou encantado com a rua (e lembrem-se que Berlim é das cidades mais arborizadas da Europa) e apanhando um sorvete na esquina da XV de Novembro subiu e desceu, em um dia de verão, sem sentir um pingo de calor. Porque a rua é um oásis, pequeno paraíso dentro da cidade.
Por que repito tanto Rua Cinco, Rua Cinco, Rua Cinco? Porque esta é a maneira como a conhecemos, todos a conhecem. Implico com essa nova denominação Bulevar dos Oitis. Por que Bulevar? Por que uma palavra francesa numa cidade de nome indígena. Intolerância minha? Ortodoxismo? Bulevar é chique, sofisticado, refinado? Não, bulevar é caipirismo, provincianismo. Boulevard é para Paris. Lá se pode ter os “Grands boulevards” (está certo dona Fanny?). O máximo da sofisticação, no caso, é chamar a rua de Cinco, como é o hábito na cidade. Como serão as placas: Bulevar ou boulevard? E se a chamássemos de Avenue, como Nova York. Ou damm como na Alemanha?"
"O bulevar vai favorecer o povo? Em quê? Vão colocar bancos para sentar? Quem vai sentar na Rua Cinco e olhar para os carros passando? As pessoas nem freqüentam os jardins públicos onde há tantos bancos. Vai favorecer o comércio? Que comércio? O de restaurantes? Mas aquela pizzaria que ficava quase na esquina da Avenida São Paulo não fechou ou está ameaçada? Aquele restaurante árabe que funcionou na antiga casa do Di Nucci não fechou? Acaso araraquarense sai tanto de casa para ir a restaurantes?
Que lojas existem na Rua Cinco que precisam que a rua seja modificada? Quantas lojas são? Quatro, cinco? Por que sempre se pensa no comércio nesta cidade? Por que não deixam em paz coisas estabelecidas e que funcionam como são? Para estragar, arruinar como tem acontecido ao longo da história? Vão abrir bares e cafés para o povo ficar no final da tarde? Bares ou botecos? Em lugar de investir mais dinheiro para desarrumar o arrumado, por que não restaurar a praça da Matriz, cujo chafariz está desativado e cujo piso está perdendo as pedrinhas portuguesas? Por que não varrer e limpar a cidade que está cheia de mato em bairros pobres ou nobres? Por quê? Ah! Consultaram os urbanistas, os paisagistas, os arquitetos, a população?"

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